Dominando a planície alentejana, no alto de uma colina com 481 metros de altitude, surge o Castelo de Evoramonte, povoação que se distinguiu na História de Portugal contemporâneo por ali ter sido assinada a Convenção que, em 26 de Maio de 1834, restabeleceu a Paz em Portugal, após vários anos de sangrenta guerra civil entre liberais e absolutistas.
Acerca da sua fundação pouco se sabe. Provavelmente terá sido conquistada aos Mouros por D. Afonso Henriques, em 1166, mas não existem fontes seguras que o possam confirmar.
A primeira menção a Evoramonte surge no ano de 1248, quando D. Afonso III lhe concedeu Carta de Foral, posteriormente corroborada e ampliada em 1271, com o intuito de povoar a vila.
Em 1306, tendo como objetivo proteger a vila e os seus habitantes, D. Dinis manda construir as muralhas medievais, que ainda hoje subsistem e mantêm as suas quatros portas em arco de ogiva, da época da fundação.
D. Nuno Álvares Pereira recebe a vila por doação em 1385 e cede-a, em 1461, ao seu neto D. Fernando, tornando-a propriedade do Ducado de Bragança.
A 15 de dezembro de 1516 D. Manuel I concede à vila a Carta de Foral da Leitura Nova, confirmando o Termo Evoramontense.
Em fevereiro de 1531 a vila foi sacudida por um violento sismo que destruiu quase por completo as suas estruturas medievais.
Para afirmar o poder da Casa de Bragança na época, D. Jaime I e D. Teodósio I mandam reforçar as muralhas com baluartes cilíndricos e erguer a imponente Torre/Paço Ducal, logo após o terramoto.
A Torre é um exemplar único da arquitetura militar de transição, do manuelino final, sem antecedentes nem precedentes em Portugal, e que serviu essencialmente como residência de caça dos Duques de Bragança. A sua posição dominante e cénica, no meio da planície, cumpre na integra o propósito da sua construção: afirmar a Casa de Bragança como a segunda mais poderosa do Reino e dando sentido à máxima “Depois de Vós, Nós”, ou seja, depois do Rei, a Casa de Bragança. Esta particularidade está fortemente presente na conceção do edifício, através dos Nós que envolvem o mesmo e que se tratam de um símbolo da heráldica Bragantina, adotado pelos arquitetos responsáveis pela sua autoria, os irmãos Francisco e Diogo de Arruda.
A Convenção de Evoramonte foi assinada na casa de Joaquim António Sarmago Presidente da Câmara na altura, tendo confirmado a vitória dos liberais, seguidores de D. Pedro IV, sob os absolutistas, seguidores de D. Miguel. Esta guerra entre irmãos terminaria, assim, numa modesta casa da Rua Direita desta vila, na qual se reuniram os Duques de Terceira e Saldanha, pelos liberais, e o General Joaquim Azevedo e Lemos, chefe absolutista, assinando a Convenção, que resultou no exílio de D. Miguel para Áustria e no triunfo do Liberalismo em Portugal.
Evoramonte foi sede de concelho até 1855, altura em que passou a integrar o Concelho de Estremoz, situação que ainda hoje se mantém.
Lenda da Moura
" D. Afonso Henriques, para alargar o território português, conquistou muitas cidades e vilas, entre as quais se conta a de Evoramonte. Para a conquistar, travou-se uma grande batalha nestes campos, da qual ficaram vencedores os soldados de Geraldo Sem Pavor.
Os Mouros que habitavam a vila foram aprisionados e, entre estes, uma linda menina muito nobre, cujo casamento com um rico e nobre cavaleiro estava há muito determinado para esse dia em que, inesperadamente, Evoramonte foi assaltada. Esta circunstância impediu que se realizasse o sonho venturoso dos dois amantes, porque, primeiro que tudo, a pátria em perigo precisava do braço valente do nobre mouro. Esta contrariedade, porém, não o desanimou e foi até com alegria que cingiu as armas e montou fogoso ginete.
Ao seu espírito belicoso parecia ainda mais belo desposar a sua bem amada, coberto de louros colhidos no campo da honra e por isso, ele, o juvenil guerreiro, com todo o entusiasmo, se arremessou contra as hostes inimigas. Porém, a fortuna foi adversa aos mouros...
Dos mouros que naquele dia não caíram no campo de honra, uns foram aprisionados e outros fugiram, entre estes, o jovem mouro.
A situação era deveras dolorosa para os desventurados prisioneiros e especialmente pare a formosa moura, cujo pesar era agravado pela imensa mágoa de não saber novas do seu bem amado.
Não resistiu a linda moura por muito tempo a tão triste e cruel situação porque o definhamento do seu organismo, cansado por tamanhos desgostos, a tombou bem depressa na sepultura. Assim terminou a vida desta grácil agarena, que teve por tálamo a terra fria de sepultura e por flores, que simbolizassem a sua virgindade, as lágrimas amargas dos seus compatriotas.
No dia imediato a este triste acontecimento, de madrugada, as vigias que a esta hora estavam nas muralhas, avistaram a meio da ladeira da vila - sitio que hoje é conhecido por Alpedriches - sobre uma rocha em forma de leito, um homem que parecia adormecido. A curiosidade imediatamente os levou lá e viram então que era um jovem mouro, o noivo de bela agarena que tinha falecido na véspera. Também ele estava morto.
Das suas pálpebras semicerradas ainda lhe pendiam duas cristalinas lágrimas, que a dor extravasava do seu coração duplamente ferido. A desdita do mouro comoveu os cristãos, que lhe deram sepultura junto á de sua linda noiva e assim os dois amantes alcançaram na morte o que a vida lhes negara - a união.
A rocha onde foi encontrado o mouro chama-se desde então, e por esse facto, a cama do mouro.
Diz-se ainda que a moura, na noite de S. João á meia-noite, aparece no Poço do Clérigo penteando as suas Louras tranças e entoando uma triste e dolente canção de amor.
Lenda do Pego do Sino
O Pego do Sino fica situado a cerca de 5 Km da vila, na Ribeira de Têra, numa zona em que as margens formam elevados penhascos e gargantas que, em certos locais, quase permitem que as duas margens se liguem.
Os penhascos entendem-se par uma extensão de mais de 500 metros, atingindo, em certos locais, uma altura de 50 metros. No Pego do Sino, as águas chegam a atingir uma profundidade de cerca de 6 metros. É por isso, um local emblemático, cujas características dão azo a crendices populares e, neste case, á seguinte lenda:
Diz a lenda que na noite de S. João, á meia-noite, o escuro de noite é invadido par mil luzes a brilharem sobre os penhascos, como se de uma procissão se tratasse.
Ao mesmo tempo, ouve-se por entre as penedias o choro de uma criança, o cantar de um galo, o mugido de uma vaca, o balir de um borrego e um sino a tocar.
Dizem algumas pessoas que já viram marcadas nas rochas, as pegadas de uma criança, de um galo, de uma vaca e de um borrego. No entanto, desconhece-se o local onde estas pegadas se encontram cravadas.